sexta-feira, 5 de março de 2010

Sobre Títulos de Filmes e um Poema de Quintana.

Sou péssimo para criar títulos para meus filmes e no início era preguiçoso também. Então ia para a simplificação e aí foram: “O Passeio”, ficção sobre um passeio entre amigos, “Crianças na Praça”, curta com cenas com crianças em... uma praça, “Confiança”, sobre um casamento, enfim, títulos ruins para filmes ruins.

Depois de tantos filmes ruins com títulos ruins, surgiu na minha mente um título para um filme que eu não tinha uma estória. O título era “A Insuportável Comedora de Chocolates”. A partir daí fechei os olhos e comecei a escrever todas as imagens que me vinham à mente, com o título na cabeça, é claro. As cenas eram soltas, e eu não tentei criar uma uniformidade, nem fazer sentido não, ia desse jeito mesmo, escrevendo, colocando coisas, juntando e depois fiz o curta. Bom título não é? O filme também é legal. Primeiro filhinho de que tenho orgulho. Ganhou prêmio e tudo.

Teve o “Fractais Sertanejos” depois. Esse foi no improviso. Tinha que colocar algum e aí coloquei esse. Não pensei muito sobre o assunto. Depois comecei a pensar em mudar o título, mas casualmente encontrei uma pessoa que tinha lido o roteiro em um desses editais que o cineasta brasileiro se inscreve. Ela repetiu o título para mim quase soletrando. Depois outra pessoa me falou que tinha tido vontade de assisti-lo ao ver o título, não sabia o que significava a primeira palavra, mas a achava muito enigmática junto à “sertanejos”, então disse para mim, fica assim mesmo.

“A Casa das Horas” era outro problema. Eu tinha a estória, mas não o título. Quase fundi a cuca e então apelei. Fui à internet! O filme falava sobre a escassez do tempo, a escassez para se fazer o que realmente se ama, e sobre a beleza das pequenas coisas, dos pequenos momentos, que se não tivermos cuidado, podem parecer sem sentido, quando na verdade são os mais importantes. Saí pesquisando a palavra “tempo”, “relógio”, e cheguei à palavra “horas”. Depois de várias páginas, e uma tarde inteira, cheguei a um poema do Mário Quintana (como é que eu não tinha pensado nele ainda!), que dizia tudo o que o filme falava e num trecho dizia assim: “Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... “. Achei aquilo lindo: “A Casca Dourada das Horas”, mas o dourada não fazia muito sentido separado do poema, então coloquei apenas: “A Casca das Horas.” e ia assim, até eu conhecer a casa onde filmei a estória, aí eu não tive dúvidas, o segundo “c” caiu e virou “A Casa das Horas”.

O filme é dedicado à Mario Quintana e o poema segue abaixo.

O tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em
casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando de vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava
o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a
casca dourada e inútil das horas...

Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o
amo...

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à
falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser
feliz.

A única falta que terá será a desse tempo que,
infelizmente, nunca mais voltará.

(Mário Quintana)