sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
The Story of India
domingo, 2 de dezembro de 2012
Os Limites da Internet
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Assistindo Documentários
domingo, 1 de julho de 2012
domingo, 28 de agosto de 2011
Miles Davis e o Tempo.
A sensação de visitar a Exposição sobre Miles Davis, no CCBB do Rio, é algo próximo a se assistir a um filme com a tecla Fast Foward apertada, acompanhada de uma excelente trilha sonora. Na verdade a mostra não evidencia nada de novo na vida do músico americano. Nada que já não possa ser lido, por exemplo, na Wikipédia. Estão lá as vicissitudes do músico que se apegava a toda moda que passava, por mais transitória que fosse, seu apego ao dinheiro trazido pela fama, o uso das drogas e seu cinismo bem característico. Apesar disso tudo, em cada sala da exposição, a cada curva e moda em sua carreira, pessoalmente, e contrário aos puristas do Jazz, vi talento em maior ou menor grau, talvez muito menos na fase final, em que se coloca como uma espécie de Pop-Jazz da cultura negra americana, tentando uma igualdade com nomes como Prince ou Michael Jackson. No que concerne a Miles Davis mesmo, o que senti falta na exposição foi à referência ao relacionamento com outros músicos, muitos o consideravam um mau caráter de ordem maior. Nesse sentido, a exposição não entra. Teria sido organizada por um fã mais cego em idolatria, ou a própria presença de objetos importantes, como vários trompetes pertencidos ao músico, exigiu da curadoria uma maior diplomacia quanto à imagem do artista? Lembro-me de uma troca de farpas com o mais contemporâneo Wynton Marsalis, que Miles acusou de ser um jovem querendo ser velho. Marsalis retrucou que Miles era um velho querendo ser um jovem. Para mim, os dois estavam com razão. Parece que só vejo aspectos negativos em Miles, não é? Mas há a música... E a música dele é uma das melhores coisas que o século XX deixou.
O interesse na exposição está na passagem do tempo e como ele se reflete na vida do ser humano, e como nossas opções em cada momento, em cada fase, refletem em nossa personalidade. Esse pensamento ficou muito forte em mim e acho que fica muito forte em cada pessoa que visita a exposição, porque Miles Davis tinha uma relação muito especial com o tempo e a época em que vivia. Não creio que para Miles Davis houve uma época dourada, ou se ele sentia isso, deveria ser muito incidentalmente. Foram 65 anos vividos em conjugação constante do tempo presente e apesar disso, não tenho a impressão que sua essência como ser humano, boa ou má, tenha mudado radicalmente. Mesmo que diante da jaqueta vermelha que vestia nos anos 80, possa se ter a ideia que muito se tenha mudado desde os bem cortados paletós dos anos 40, para mim, sua natureza parece ter se mantido. Tudo registrado em fotografias e músicas. Tenho essa visão porque creio que os modismos dele estão além do interesse exclusivo monetário, evidenciado nas trocas de cartas com os executivos das gravadoras, mas numa necessidade contínua que sempre teve de influenciar continuamente a cultura americana, algo que sem dúvida, conseguiu.
domingo, 10 de julho de 2011
Gracias Segovia!
Há pouco mais de um mês conheci Andrés Segovia. Qual a coisa boa de viver? Descobrir coisas como essas. A vida é cheia de surpresas e na curva da esquina pode haver um bom novo achado.
Andrés Segovia, aos quatro anos, dedilhava um instrumento invisível. Fingia que tocava um violão, ou guitarra, como chamam os espanhóis, que não existia. Tornou-se um grande instrumentista, apesar da oposição cerrada da família. No início, o instrumento não servia para o concerto, era algo popular, usado por ciganos. Segovia o colocou nos palcos. Tocava com uma técnica que colocava as cordas entre os dedos e a carne, criando timbres próprios. Fiz o teste, ouvi a mesma composição tocada por outros instrumentistas. De olhos fechados, um leigo como eu, consegue definir quando é ele que está tocando.
Postei dois vídeos dele aqui. Dá para ver a técnica e sentir a sonoridade única, mas dá para ver outra coisa também, o homem de idade sobre o instrumento. Um amigo músico me disse como é engraçado vê-lo tocando, pois parece ser muito fácil, quando na verdade não é. Voltei a assisti-lo e percebi que quando toca, seu olhar para as mãos não dá pistas qual será o próximo movimento, não indica, não antecede. Segovia olha para as mãos como se as acompanhasse e não como se as comandasse. Aquelas mãos gordas de dedos dobrados têm vida própria e daí vejo outra coisa: amor. Olhando bem, vejo amor, amor pela arte, amor pelo instrumento, um amor sem palavras, sem o “eu te amo” e talvez por isso mesmo um amor mais franco, compromisso descompromissado, doação, e o que se tem em troca? Fama? Dinheiro? Não, apenas a chance de tocar de novo, mais uma vez. Isso acaba sendo uma ética, uma ética da arte. Segovia me lembra que a recompensa, a verdadeira, está em continuar fazendo o que se ama.
Para quem descobriu essa publicação na caótica rede, uma sugestão: na coleção SEGOVIA COLLECTION ele toca com orquestra Fantasia para um Gentil Hombre. Ouvir, para mim, foi daquelas experiências de fazer voar.
Gracias Segovia!
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A Iluminura, o Califa e o Cinema.
Ontem, eu e Glauber Nocrato, o músico dos meus últimos dois filmes, demos um passeio pela exposição Islã, no Centro cultural Banco do Brasil. Após frisos, pratarias e tapetes, demos de cara com a seção dedicada à caligrafia.
Belíssima a caligrafia islâmica, algo que a cultura oriental soube usar como arte e que para nós é apenas a funcionalidade das letras. Nosso olhar caiu de imediato sobre uma edição do Corão de séculos atrás, não essa da imagem acima, mas uma até mais bonita, totalmente feita à mão, de muito antes da invenção da tipografia. Imenso, o livro se encontrava aberto em um ponto com páginas douradas, e o cuidado com a elaboração deixava a gente a imaginar as outras folhas. Eu me perguntei quantos dias devem ter se passado para se fazer apenas aquela página. Um dia, dois, uma semana? E o livro todo? Meu amigo riu e disse que “o tempo alí, não era a questão. O cara que fez não estava preocupado com isso.”. Na verdade, naquela época, o califa mantinha sobre contrato inúmeros iluminadores e calígrafos que se mantinham na tarefa contínua da elaboração dos livros. Meio assalariados e meio escravos, o tempo de suas vidas na terra se resumia a fazer aquilo, então o tempo de se escrever uma página, ou um livro, acabava sendo irrisório.
Mais tarde, com a devida cervejinha, e discutindo sobre a “paciência”, que eu acredito ser a pior das qualidades, voltei ao Corão dourado que vimos antes. Comecei a imaginar a situação dos Califas. Imaginei um Califa que olha por sobre o ombro do calígrafo e pergunta: “Então camarada, quando fica pronto?” e o pobre iluminador só pode dizer: “Tenha paciência, ò Califa! Um dia terminarei.” e dez anos se passam, e então o Califa um dia abre o livro, folheia as páginas douradas, e diz: “Está Lindo!”. Vejam só! A paciência de dez anos recompensou o Califa com o prazer de um momento, e claro, com todos os outros momentos que voltasse a ter o livro às mãos. Eis a recompensa!
Depois imaginei outro Califa! Esse é diferente do primeiro. Olha também sobre o ombro do artista, mas ao invés de repetir a pergunta do anterior, vê o calígrafo desenhar sobre a folha dourada com cuidado e exclama “Está ficando lindo!”. Fazia amor com aquilo e após dez anos acompanhando o quão bonito ficava o livro, quando este estava terminado, abria e vivia em um único momento, os dez anos de beleza e amor que acompanhou na sua feitura.
A diferença entre os dois Califas, é que enquanto o primeiro teve a paciência de dez anos pela beleza do momento, o outro viveu em delícia os mesmos dez anos e depois, contemplando o livro, acabava por reviver os dez anos em um único momento.
Glauber acha que eu faço confusão semântica, confundo paciência com espera. Ele entende a “paciência”, como “paz ciência”, ou “ciência da paz” e assim a paciência seria plenamente aplicável ao caso do segundo Califa. Pode ser...
E onde entra o cinema nesse Califado todo? Assisti a uma entrevista do Arnaldo Jabor, que coincidentemente tem ascendência no povo daquela região, sobre o seu filme novo e ele reclamava que uma coisa que o tinha feito deixar de fazer cinema era o tempo de quatro anos para se fazer um filme. Ele disse que passou 24 anos sem fazer filmes. Tirando os quatro anos do pós EMBRAFILME, quando ninguém fez cinema, foram 20 anos de abnegação na recusa de fazê-los simplesmente por demorarem tanto tempo a serem feitos. 20 anos... Davam para ter sido feitos 5 filmes... e dizem que esse último é muito bom.
Livros perdidos no incêndio do palácio do Califa fazem falta. Ainda bem que calígrafos e Califas não pensavam sobre o tempo que se passava para se fazer um livro, ou então eram pacientes, seja ao estilo de nosso primeiro Califa, seja ao estilo do segundo. Tudo isso para dois cearenses olharem duas páginas por um vidro, e discutirem sobre a paciência, enquanto tomam cerveja.
Felizes somos nós.
Heraldo Cavalcanti