Um interesse pela Índia, surgido
através de um projeto em que estou trabalhando, me levou a série da BBC, The
Story of India.
É engraçado como os cineastas
brasileiros têm aversão a utilização de um narrador no documentário, seja em
voz off, ou em corpo presente mesmo. No primeiro caso creio que se trate de uma
reação de auto-defesa a uma debilidade histórica do cinema nacional em fazer um
bom filme com uma locução criativa, inteligente, ou poética, restringindo-se à
descrição ou mesmo ao comentário pessoal do autor, em sua própria voz. Não
temos no cinema nacional, ou na televisão, o tipo de narração que se vê em Nuit et Brouillard, escrito por um poeta
(Jean Cayrol) e interpretado pelo trabalho cuidadoso de um grande ator (Michel
Bouquet), se assim o fosse, ia ser mais difícil falar mal desse tipo de
instrumento narrativo em terras tupiniquins.
Já a interferência de um narrador
em corpo presente é a autêntica utilização do intermediário entre nós e o que é
mostrado, e tende a se aproximar perigosamente do tele-jornalismo ao estilo
americano, que o brasileiro copia fielmente. Bem, o formato de série documental
da BBC se afasta disso quando se utiliza do especialista, daquele que conhece a
fundo o que está sendo mostrado. Não é o documentário investigativo, onde o
condutor sabe tanto quanto nós e, aparentemente, fica sabendo mais sobre o
assunto no mesmo momento em que nós. Uma mistura dos dois é o modelo do Globo Repórter. No
caso das séries da BBC e The Story of India seria uma caso exemplar, somos levados por alguém que conhece tudo antes de
chegar lá, já leu, já sabe, suas descobertas acabam residindo nos detalhes, ou apenas na visualização da realidade que sua pesquisa da história havia mostrado.
Digo que The Story of India "seria" um caso clássico do tipo de série que a
BBC produz para a TV porque ele é o bom resultado, eu diria até excelente, de
uma fórmula que o canal de televisão britânico tenta replicar, só que é neste
ponto que há diferenciações, pois na verdade, muito do resultado desse modelo, acaba na aplicação de uma receita, que termina em um bolo de fubá comum, daqueles que se encontra nas prateleiras de qualquer padaria. Nisso, The Story of India é diferente.
O que torna a série interessante
são sua atualidade, a Índia, assim como o Brasil, desperta a curiosidade do
mundo por fazer parte de um grupo que se torna cada vez mais protagonista no
cenário mundial; pelo exotismo, e as imagens são luxuriantes, é impossível não
ter o desejo de estar naqueles locais; o aspecto pessoal da produção, e isso
pode ser confirmado olhando-se os créditos, onde se vê que o narrador é
responsável pelo texto que fala, e o diretor opera a câmera, enquanto a equipe,
excetuando-se cenas específicas, parece se resumir quase inteiramente à três
pessoas, em pelo menos dois momentos vemos o próprio narrador ajudar a levar
equipamento; e por último, a forma apaixonante, presente em todos os episódios
da série, com que Michael Wood narra toda a sua viagem pela Índia. Não se trata
de um simples apresentador, mas você vê realmente a emoção surgir nele, seja a
da curiosidade, a do espanto, ou a tristeza. No final do primeiro episódio o
vemos se misturar a multidão na festa das cores, onde as pessoas jogam pó
colorido uns nos outros e ele participa da festa. Alegre, tomado pela emoção,
sujo de tinta no fim de um dia na Índia, ele olha para a câmera e suspira
feliz dizendo “e é apenas o começo”.
Não consigo deixar de pensar que ali ele deixou dúbio se falou ao espectador,
ou à pequena equipe atrás da câmera, em uma confissão da aventura que se é
fazer um documentário, como se dissesse: “Deu certo, estamos rodando o projeto
que sonhamos fazer, mais um que a gente consegue, e olha, ESTAMOS NA ÍNDIA!”.
Fazer documentário, definitivamente,
é uma aventura e um prazer.
Impressionante!! Adorei MESMO!! Vou tentar assistir.
ResponderExcluir